Os 300 km que ligam Kiffa a Kayes foram feitos totalmente por fora de estrada. Toda a parte burocrática da saída da Mauritânia já tinha sido resolvida ontem à noite. Os polícias e os militares deslocaram-se até ao hotel para carimbar todos os passaportes…
No fundo, o dia de hoje foi como pensávamos que iriam ser todos. Nem 5 km depois de termos saído do Hotel já estávamos fora de estrada e assim continuamos até ao destino final. Apenas com orientação GPS para o ponto de chegada, as paisagens foram mudando desde o deserto da Mauritânia, para progressivamente mais vegetação, até à Savana do Mali. Passámos por dezenas e dezenas de povoações sem qualquer lógica compreensível de localização, milhares de cabeças de gado, alguns lagos, enfim, um pouco de tudo. Pó, muito pó. Calor, muito calor. Chegámos a apanhar 43 graus, que não são os mesmos 43 graus da Europa… Mas que não deixam de ser quentes, apesar de não dar praticamente para transpirar. Tudo isto, sem ar condicionado, vidros abertos e pó desde os pés até ao tejadilho!
No meio disto tudo e sem perceber muito bem como é que lá chegámos, acabámos por cruzar a fronteira com o Mali numa pequena vila, onde por acaso havia uma guarita com dois guardas: um com um carimbo e outro com um caderno quadriculado para escrever os nomes das pessoas que passavam. Na verdade, em África, todos os caminhos vão dar aos mesmos pontos. Por mais voltas que tenham dado, toda a gente convergiu na fronteira.
Como já dissemos anteriormente, foi talvez o dia mais interessante de toda a viagem até agora. O problema é que não há uma liderança, não há regras de conduta, de modo que todos fazem o que querem, nomeadamente o guia. Cada um anda para seu lado, pára quando quer, ninguém anda junto. Uma bagunça total. Se durante o dia isso só gerou percas de tempo, ao final do dia as coisas complicaram-se porque caiu a noite e ainda estávamos todos a mais de 50 km do Hotel. 50 Km podem parecer pouco, mas 50 km em todo o terreno e sobretudo à noite são mais de duas horas de condução. Isto significa que as pessoas, de repente, tiveram que começar a olhar para o GPS com olhos de ver e em África o GPS não indica nada senão um ponto que é o destino final. Caída a noite, cada farol que se via ia na sua direcção e poucos na direcção certa.
Já no final cruzámo-nos com um grupo de carros que iam completamente em sentido contrário e que assim continuaram, sem sequer quererem saber para onde é que nós íamos.
Acabámos por ser os primeiros a chegar, já com quase duas horas de condução à noite. Amanhã saberemos como é que correu a vida aos outros.
Um dia perfeito, com um final perfeitamente disparatado. Ontem fizemos um percurso por estrada alcatroada com polícia à frente e policia atrás, não fosse acontecer-nos alguma coisa. Hoje, completamente fora de estrada, com horas de condução nocturna, a protecção foi zero… Vá-se lá perceber esta organização e estes Húngaros!
Amanhã estamos a organizar tudo para seguir directamente para Bamako e assim chegar um dia mais cedo. De qualquer forma estamos a organizar um percurso fora de estrada e amanhã contaremos mais pormenores…